Alguns episódios pessoais recentes me puseram a refletir sobre a arte de saber desistir.
Muito se fala sobre a importância de insistir, persistir, brigar, arregaçar as mangas, ir a fundo, até a última gota de suor, blá blá blá … Em geral, este tipo de pensamento de auto-ajuda está voltado a negócio, carreira, empreendedorismo e afins.
Mas muito pouco se fala sobre a sabedoria inerente na desistência seletiva, em particular em âmbito pessoal. Eu explico.
Pessoas são seres de hábitos, que se arraigam ainda mais com o passar dos tempos. Qdo se é criança, é relativamente fácil não apenas educar – tira o dedo do nariz, não cuspa no chão, peça bênção, diga obrigado e por favor – mas também e principalmente mudar hábitos.
Com o tempo, alguns hábitos, pensamentos e pré-conceitos se imiscuem tão profundamente que passam a se confundir com o próprio jeito de ser de certas pessoas. Isso não é inerentemente ruim, ou bom, mas apenas uma constatação da realidade.
O bicho pega quando esta problemática sai da esfera pessoal para a das relações humanas, familiares e de amizade. Brigas, dores e sofrimentos são o resultado de embates de pensamentos, hábitos e desgastes cotidianos, em particular qdo 2 pessoas não conseguem estabelecer um diálogo franco e aberto sobre estes pequenos conflitos.
Mais, ainda, quando uma delas não aprende o essencial, ponto central desta minha reflexão: saber desistir. Não me refiro a sair da relação, chutar o balde, tornar o amigo um inimigo, romper laços por completo.
Eu me refiro a evitar os pequenos embates cotidianos que em nada – NADA – contribuem para engrandecer o relacionamento, ou a uma das pessoas. E que, em geral, quando analisados friamente e em perspectiva, não fazem a menor diferença no grande esquema das coisas.
Exemplos abundam – a tampa da pasta de dente aberta, o prolixismo nos emails, a hipocondria atávica, o negativismo doentio, a falta de diálogo, a insistência em discussões sobre temas que não levam a lugar algum.
Isso em geral é mais comum em pessoas idosas – já vergadas pelo tempo, é pouco provável que o benefício da mudança (se atingida) irá compensar o esforço desprendido ao longo do processo.
A arte está em saber quando, como e, principalente, se vale a pena simplesmente desistir. Não por completo, mas em diferentes dimensões : relevar, ignorar, fechar os olhos, mudar de assunto, evitar, acostumar-se, enfim … com o tempo dá até para se divertir com os hábitos, manias e trejeitos.
Em outros casos, o sábio é saber isolar. Evitar se deixar atingir por pensamentos, ações e intenções negativas de outrém. Isso é mais comum em “amizades”, particularmente quando se faz algo de peito aberto, desinteressado, e o resultado é inesperado, frio, agressivo e por vezes irracional.
Nestes casos, é preciso saber discernir o quanto vale a pena discutir, insistir, explicar, se desgastar, para tentar mudar uma percepção, um pré-conceito. Ou o quanto simplesmente vale a pena desistir, riscar da cabeça e do coração, deleter da Agenda de Contatos, bloquear no Skype, fazer cara de pôker, seguir em frente.
Tenho apreciado cada vez mais a economia de energia advinda da desistência seletiva quanto a certos embates, em particular aqueles nos quais o resultado final é sabido a despeito da batalha: o pré-conceito arraigado, a continuidade da prática levemente nefasta, a desimportância da mudança de convicções.
A experiência está em saber escolher as batalhas. Ou, em outras palavras, em saber quando, de quem, como e porquê desistir de certas guerras.
Fábio, em ritmo filosófico
Excelente texto, depois que conclui minha formação de Coach passei a perceber que o mundo muda quando você muda, aprendi a analisar, valores, crenças, hábitos, conceitos das pessoas, um pouco difícil no começo quando você pensa em emitir sua opinião desta forma você começa a “enchergar” as pessoas de outros ângulos com outro ponto de vista, facilitando muito a convivência.
Que bom que gostou ! 🙂 Recebi vários emails de amigos e familiares, que (eu nem sabia) assinam o feed do blog, e comentaram o texto, com o qual se identificaram.
Qdo e se eu voltar a Gyn, vc vai ter que fazer um coaching comigo !!
Muito legal!! A arte de renunciar, as vezes concordar, se calar e, no final, sorrir. O que vale, meu irmão, é o sorriso!!